31 de dez. de 2012

Em 2013...

Não esquente a cabeça
Vá à praia
Abrace seus amigos
Diga "eu te amo"
Beba uma gelada
Esqueça os quilinhos a mais
Tome sorvete de flocos
Ande de pedalinho
Coloque seu vinil na vitrola
Vá à Paquetá
Bata palmas para o pôr do Sol
Não queime a mufa
Cante no chuveiro
Leia um bom livro
Faça sexo
Cozinhe para os amigos

24 de dez. de 2012

O dito pelo não dito


A essa altura da vida tudo o que queria era aproveitar o que já conquistara até ali. Não imaginava que, justamente agora, as reviravoltas começariam a assombrá-lo. No fundo sempre soube que viriam. Mas se não antes, por que agora?
Não consegue lembrar com exatidão o momento do primeiro encontro, mas lembra dos primeiros dias, da primeira sensação. Lembra que ela era a mais interessada. Sempre tinha alguma pergunta na ponta da língua. Lembra-se também de, por diversas vezes, ter imaginado estar se apresentando somente pra ela. “Não entendo essa tua mania de encarar tuas aulas como apresentações de espetáculos” ela dizia. Mas, ora, o que seria se não uma forma de se apresentar à pequena plateia sedenta de seu conhecimento. Lembra que no início ela pensava assim.
Enquanto desfaz a primeira gaveta se recorda da advertência feita pela mãe. Não acho que seja uma boa ideia. Ela não me parece pronta para ser uma dona de casa. Você é jovem e ela mais ainda. Optou por ignorar a todas. Sim, ele era jovem e ela alguns anos mais jovem do que ele. Mas de que isso importava afinal? Estavam apaixonados, era o que bastava. Ele ainda se lembra daquela madrugada quente em janeiro, ambos estavam sem sono (ou seria um artifício de seus próprios corpos para aproveitarem cada minuto com o outro?) e ele terminava o primeiro capítulo de seu mais recente romance. Pediu a ela que deixasse a televisão de lado por alguns minutos e contribuísse com a sua sincera opinião. Ele nunca fazia isso. Nunca deixava ninguém ler seus livros pedaço por pedaço. Eles eram obras de arte por completo. Separados não faziam sentido pra ninguém, a não ser pra ele. Com certo entusiasmo ela percorreu os olhos pelas palavras. Uma, duas, três vezes.  Ele se perguntava o que ela estaria pensando. Parecia complicado demais? A bagunça de sua cabeça tornava impossível a compreensão para quem viesse de fora? Ao fim da leitura ela tinha os olhos marejados e o papel apertado nas mãos. É tão lindo e tão poético, mas me deixou extremamente angustiada. Era ela, só podia ser. Ele soube ali, no minuto em que ela enxergou o que ninguém mais enxergava em seus livros. Nele.
Uma mala pronta e ainda restam 2/3 do guarda-roupa. Seria o suficiente para algumas semanas, mas a necessidade de sair dali o mais rápido possível, de nunca mais voltar a pisar naquele lugar fez com que ele esvaziasse tudo por completo e levasse até o último pente de cabelo. Hora da divisão. Antes de prosseguir desamarra do pulso as fitas que ela lhe dera nas últimas férias com a promessa de lhe trazer sorte. A ele não valeram de nada. Era melhor deixa-las por ali. Recolhe todos os seus discos sabendo que ela entrará em desespero quando procurar aquele LP raríssimo do Pixinguinha e não encontrar. Ele lhe pertence, nada mais justo do que voltar em sua bolsa. Deixa com ela todos os cds, esses não valem tanto assim. Ele gosta das coisas à moda antiga, já ela é moderna em excesso.
Uma última conferida no quarto. Uma olhada furtiva à cama. A cama de casal, a cama deles que guarda segredos que só os dois compartilhavam. Talvez agora ela já os tenha compartilhado com a terceira pessoa. Ele notara a diferença. Ela, que sempre fora o Sol, estava cada vez mais fria e distante. Ele preferiu não dizer nada. Esperar pela notícia como quem sabe o que está por vir. Encontrei outra pessoa. Você sabe que o problema não é você. Nós fomos precipitados, deveríamos ter escutado os outros. Eu ainda te admiro muito. É melhor acabar com isso antes que algum dos dois saia machucado.
Aproveitou o momento em que sabia que ela não estava para pegar suas coisas. Qualquer contato agora seria extremamente delicado, e ele estava ocupado demais (demonstrando a todos que concordava com o fato de que o término era a melhor opção) para andar em seus campos minados. Sem esperanças de volta, sem lágrimas, sem ressentimentos. Simples assim. Outro dia um amigo o parou na rua e quis saber sobre o ocorrido. Sabe como é, é o mau de nossa geração, incompatibilidade de genes. Mas estamos bem. Somos amigos ainda.  A velha história da mentira contada diversas vezes, até virar uma verdade.
Antes de partir decide deixar um bilhete para não parecer muito grosseiro.
Estive por aqui para pegar minhas coisas. Não encontrei o meu Neruda mais novo que você tomou emprestado e, até onde eu lembro, não chegou a ler. Será que poderia mandar pelo vizinho? Precisarei dele para a próxima aula. O senhorio trouxe a papelada. O aluguel está confirmado no seu nome. Sugiro que aceite uma ajuda de seu futuro companheiro, o reajuste esse ano foi salgado.
Pra quê despedir-se com beijos? Para quê desejar coisas boas e que ela se cuidasse? Ele sabia que a partir dali ela seguiria melhor do que ele.
Um último passo silencioso e sem olhar pra trás. Confere todos os documentos na carteira e sente o peito apertar. É a saideira da vida que ele viveu ali. A saudade é inevitável e já começa a se fazer presente. Junto com ela uma surpresa, alívio. Alívio por se sentir livre, alívio por conseguir, independente das circunstâncias, deixar pra trás uma rotina da qual ele sabia já não ser mais a sua. Aquela leve impressão de que já se vai tarde.

16 de dez. de 2012

Falta de sentir falta


Não que fosse normal, aceitável ou esperado. Mas aconteceu. Eu senti sua falta. Senti saudade. Essa sensação de vazio que eu não me é permitida sentir, não quando diz respeito a você.
E talvez não fosse só o fato de você não estar fisicamente presente, mas sim o fato de você nunca estar, de fato, comigo. A saudade que eu sinto é  da sua companhia. Essa que eu nunca tive. Essa que eu tiver que aprender a viver sem.
O dia transcorreria normalmente, como era de se esperar. Eu arrumaria desculpas, atividades e pessoas para preencher o seu lugar, como era de se imaginar. Mas nunca é a mesma coisa.
Sinto falta de poder sentir falta. Sinto vontade de te ligar e dizer “olha, essa distância toda entre a gente não está legal”. Seria loucura, seria impulsivo até pra mim. Mas é assim que eu sou, e você bem sabe. Impulsiva, inconsequente e como dizem por aí “meio doidinha”.
Você gosta das minhas palavras doces e simples. Diz que se agarra a elas quando pode. Eu não tenho nem ao que me agarrar. Tento buscar a lembrança do teu cheiro, mas ela já é vaga. Talvez os olhos, mas eles resistem em me encarar. Fico com a saudade. A saudade escondida. A falta que eu sinto só pra mim e ninguém mais pode saber. Nem mesmo você.

14 de dez. de 2012

Crônica nº 1


Já eram 18:30 quando ela conseguiu fugir. As paredes se fechavam e o vidro espelhado começava a sufocar mais do que tudo. Talvez o que faltava era ar puro. Talvez uma simples caminhada fosse capaz de resolver. Resolveu seguir andando, mas ao invés de dobrar a esquerda e tomar o caminha habitual, escolheu a direita.
Como sempre, ela estava imersa até a cabeça em problemas que não eram seus. As incertezas, os problemas e as dúvidas, que não eram suas, perseguiam-na sem trégua, sem deixar um mísero espaço pra respirar. No fundo ela gostava. Era a única maneira de não encarar os seus de frente. As suas incertezas, os seus problemas, as suas dúvidas. Continua caminhando, agora pela orla daquela famosa praia. A sua frente uma jovem senhora diminui o passo pacientemente para acompanhar o garotinho na bicicleta. Talvez fosse sua mãe, a questão é que parecia imensamente satisfeita em só acompanhar. Talvez fosse melhor se sentar.
Será que a jovem senhora era feliz assim? Sua imaginação fértil projetou um apartamento confortável, um marido aceitável e um cachorro de porte médio, além do garotinho, é claro. A ideia lhe causou calafrios. Parecia tudo tão banal. Talvez o problema não estivesse na jovem senhora, nem no marido ou no filho. Talvez o problema estivesse nela que não consegue assimilar o fato de as pessoas se contentarem com o marasmo. Mas a ideia era não falar dos problemas dela. Melhor pedir uma cerveja.
O dia começa a terminar. Ela brinca com a ponta de uma mecha de cabelo enquanto observa aqueles dois morros se ascenderem à medida que o Sol se apaga. A sua vontade era não sair dali nunca. Engolir a bebida e se aquietar no mais profundo silêncio. Talvez assim ela conseguisse, enfim, atirar-se para dentro do vazio. Talvez o problema realmente estivesse nas pessoas. Nas pessoas as quais ela vem se cercando. Um suspiro pesado e uma lágrima que quase desce. Lágrimas. Há quanto tempo ela não sabe o que é sentir o líquido salgado descendo pelas suas bochechas. Não que não houvesse oportunidades, não que a vontade não aparecesse ou que ela se esforçasse. Elas, as lágrimas, simplesmente não vinham. Estavam ignorando-a assim como qualquer outra coisa que pudesse comprová-la de sua própria existência.
Ultimamente ela tem se sentido incapaz de sentir. A rainha da dissimulação se perdeu no meio do que é real e do que não é. Havia dias em que ela se sentia embebida em morfina, incapaz de se aquecer e sendo obrigada a forçar sorrisos calorosos. Um último gole, mais uma cerveja. Dessa vez um homem para ao seu lado. Ele senta-se à mesa ao lado, lê um jornal escrito em outra língua e usa sapatos que não combinam com a ocasião. Alheio àquele mundo. Instantaneamente ela o acha interessantíssimo. Seria um belo estudo de caso se fosse antropóloga, pensa com seus botões. Esse cara deve ter uma vida interessante. Ela gostou da ideia de se imaginar em outro canto do Mundo, rodeada de pessoas diferentes, lendo um jornal em outra língua e totalmente alheia ao dia-a-dia das pessoas.
Se tivesse uma toalha esquecida em minha bolsa, até me arriscava a dar um mergulho, ela pensa. A mecha de cabelo já não parece mais tão interessante, assim como o vizinho da mesa ao lado. Como podes ser tão volúvel? Ela mesma se repreende. Ser volúvel implica em mudar de ideia incrivelmente rápido, mudar de ideia implica em ter que opinar por um ou outro, opções implicam em escolhas e, por favor, deem-lhe tudo, mas não deem escolhas. A capacidade de escolher algo que seja bom pra si já foi descartada. O problema é que o caminho do meio que ela escolheu implica em sempre ficar com as duas opções. Pra que isso ou aquilo se posso ter isso E aquilo? Pra que ele ou você se posso ter ele E você. E assim tudo fica mais fácil. Só esqueceram-se de avisá-la que quem quer tudo nunca tem nada.
Um último gole. É hora de dar as costas a esta paisagem, ao vizinho que agora grita em seu celular e ao buraco negro de pensamentos que ficou naquela mesa. Soluções? Encontrou várias. Nunca pros seus próprios problemas, mas sempre terá um bom conselho a te dar se você pedir. Uma garota que está perdida demais para dizer alguma coisa. Talvez ela nem esteja tão perdida assim, só que ainda não conseguiu se encontrar.

26 de out. de 2012

Another One


Eu gosto de como ele fica nervoso.
Gosto do brilho da dúvida nos olhos dele.
Gosto da incerteza com a qual ele toca os meus lábios.
Os quase-beijos me deixam sem fôlego.
Se não quisesse ele nem tentaria.
É só um refúgio, um ombro amigo com um quê de segundas intenções pra quem sucumbiu ao tédio da rotina.
Eu gosto porque ele pega de jeito, afinal essa pode ser a última vez.
E eu sempre vivo como se fosse a última vez.

9 de set. de 2012

Proposta sinestésica


Não vou te contar sobre os verões na casa da árvore. E nem sobre as noites de inverno em que eu vesti meias de lã e acabei com garrafas de vinho, sozinha.  Você não vai me contar sobre as suas noites solitárias de sábado. Aquelas que você gosta mais. Aquelas noites que você passa em claro desenhando esboços e escrevendo em guardanapos de bares. Pare de tentar bancar o sedutor. Nós dois sabemos que você não é assim.
O que eu gosto em você é o que ninguém pode ver. Se eles vissem, se soubessem, se gostassem perderia a graça. Pare de se mostrar! Deixe que eu descubra. Guarde só pra mim.
Você tem um coração partido? Eu não sei se tenho um coração para se partir, mas tudo o que eu quero é consertar o seu.
E me deixe participar das suas noites solitárias!  Eu juro que te levo pra casa da árvore.  Nós podemos rabiscar papéis, e eu deixo você rabiscar até minhas costas se quiser. Eu posso ser o seu papel quando os guardanapos acabarem. Também posso ser a sua inspiração quando as mulheres-dos-seus-sonhos te deixarem com uma dose de tristeza, dois dedos de amargura e um coração partido. 

26 de ago. de 2012

.


Não que eu quisesse lembrar, mas o lugar, as pessoas, a música e até o gosto da bebida conspiraram contra mim.
E hoje passou alguém por mim com o seu cheiro. E eu não sei se o cheiro combinou com a música ou a música combinou com o cheiro, mas na hora foi como se os meus compromissos atuais não existissem, e eu estivesse, mais uma vez, indo ao seu encontro.
Você é uma daquelas pessoas com cheiro e olhos marcantes. Aquele tipo de pessoa que fica na cabeça da gente e a gente nem sabe o porquê.

29 de jun. de 2012

‎Mas estes dias eu tenho estado tão quieta, melancólica, introspectiva e reclusa nos meus pensamentos que nem eu mesma me reconheço.

16 de jun. de 2012

Morte

Acalenta meu adormecer
Permita-me um repouso tranqüilo
Deixa passar meu espírito 
completamente  inocente


Lá fora tocam os sinos
dos maus presságios
Lúgubres
Deixe-os tocar
anunciando minha morte
Por que eu preciso morrer


-Anne Boleyn

13 de mai. de 2012

A poesia da simplicidade


Toda manhã eu torço pra que chova.
Gosto de lembrar do gosto daquele teu bolo de cenoura.
Queria que todos os dias tivessem a cara dos dias na casa da avó.
Queria poder dizer que dormir até doer as costas é a minha rotina.
Por um dia, queria não me sentir estranha por odiar o Sol.
Qual a vantagem de viver no litoral se ele não te satisfaz?
Queria não ser tão difícil de satisfazer.
Quero manter o meu apreço pelos momentos mais simples.
Mais pessoas simples, menos pessoas tentando me agradar.
Pobres dos que tentam, pois eles nunca conseguem.
Queria ser menos inconsequente.
Preciso ser mais responsável.
Parar de sentir arrepios na espinha.
Fechar os olhos e sentir o cheiro do café.
A luz de um dia nublado, ou melhor, a ausência dela.
Fotografias, imagens e palavras.
Todas minhas.
Só minhas.

15 de abr. de 2012

"Depende de como e quando você me vê passar"


Enquanto a menina brincava em seu canto, a mulher gostava de observá-la.
A menina é espontânea, a mulher desconfiada.
As duas subverteram os papéis.
A mulher tenta parecer ingênua.
A menina brinca de seduzir.
A menina tem corpo de mulher.
A mulher tem rosto de menina.
A menina se aventura entre livros complexos e filmes difíceis.
A mulher escuta Taylor Swift quando ninguém está olhando.
A menina gosta de sexo, drogas e rock’n roll.
A mulher prefere um suquinho de laranja.
A mulher grita, pula e se joga  no chão como uma menina.
A menina geme, sussurra e arranha, exatamente como uma mulher.
Primeiro vem a menina, calma, doce e meiga.
Depois vem a mulher, urgente, intensa e madura.
A mulher diz que a menina é uma bela dissimulada.
A menina acha que a mulher deve arriscar mais.
A mulher é insegura.
A menina acha que pode tudo.
A mulher sonha.
A menina vive. E como vive!
A mulher quer ser menina pra sempre.
A menina morre de medo de se tornar uma mulher.
Cada dia que passa a menina é mais mulher e a mulher é mais menina.
As duas vivem assim, nesse conflito interminável carregado de uma admiração incondicional.
Um paradoxo perfeito.
Duas coisas combinadas em uma só.
Pobre da criatura que carrega a menina e mulher dentro de si. Pobre, pobrezinha!
Ou não.
Ela pode acordar e ser a menina.
Ela pode não dormir e querer ser a mulher.
Pode ser encantador.
Pode ser perigoso.
É preciso saber lidar.
E, sinceramente, não acho que você consiga.  

30 de mar. de 2012

Conversa com as cores ou Para quê elas servem mesmo?


Branco.
Folha em branco.
Mente em branco.
Uma vontade imensa de viver e por tudo pra fora.

Preto.
Café preto.
Lápis preto.
Palavras cuspidas que parecem não querer sair.

Cinza.
Dia cinza.
Céu cinza.
Chumbo como os olhos que eu dia eu tive aqui.

Azul.
Noite azul.
Bebida azul.
Sorrisos efusivos e olhares furtivos.

Preto.
Branco.
Não existe o cinza entre eles, e as outras cores são só lembranças distantes.

Branco.
Preto.
Silêncio.
Paz.

25 de mar. de 2012

Só mais uma estatística


Mamãe,
mal consigo lembrar a última vez que te escrevi uma carta. Queria que a oportunidade fosse melhor do que esta.
Eu errei tanto, mãe. Tanto que não consigo mais conviver com os meus erros.
Você sabe que, desde menino, meu ídolo sempre foi o Super-Homem. Sabe que eu sempre quis ser como ele. Fazer isso defendendo a minha pátria não parecia ruim. Mas a parte ruim chegou.
Não eram só medalhas, honras e méritos. Havia sangue, muito sangue. Agora ele escorre pelas minhas mãos.
Eu fui disposto a caçar e exterminar monstros terroristas cuja alma já estava condenada. Eu procurei por eles, mãe! Acredite, eu procurei! Ansiei por encontrá-los nos olhos da primeira criança que eu matei. Mas veja que lástima, eles não estavam lá. Eram só mulheres, crianças e velhos.
Eu fui para me tornar um herói. Volto me sentindo o pior dos vilões.
Uma marionete usada por aqueles que começaram isso tudo. Uma vida por um poço de petróleo e áreas de influência.
Eu me lembro daquela mulher em Bagdá, ela andava com um objeto agarrado ao corpo por baixo de sua burca.  Algo que ela guardava como a própria vida. Só podia ser uma bomba. Atirei antes que ela explodisse. Quando fomos verificar o corpo, o choro do bebê no braço de sua mãe morta nos pegou de surpresa.
O choro daquele iraquiano órfão me perturba enquanto escrevo.
Acredita que ele virou apenas mais uma estatística?
As vozes falam alto demais.
Elas gritam em meu ouvido.
Preciso calá-las!
Já matei gente demais.
Chegou a hora de me matar.  

17 de mar. de 2012

- Por que você é tão estranha?


- Estranha? Como assim?
-É, estranha.  Assim, imprevisível, inconstante...
-E isso é sinônimo de estranheza?
-Em você é. – Após a última frase houve um longo momento de silêncio entre os dois. Ela sabia que todas aquelas palavras martelavam na cabeça dele. Sabia o tempo todo. Mas nunca imaginou que este assunto viesse a ser colocado em pauta. Sem avaliar muito bem o que dizia, ela continuou.
-Bom, não sei porque sou assim. Sou assim e pronto. Você só pode gostar ou não, e não ficar questionando.
-Não precisa ser hostil.
-Não estou sendo hostil! Só estou respondendo a sua pergunta. – Como se não aguentasse mais aquela conversa vazia, ele se levantou e foi à janela. Pelo movimento das folhas das árvores podia ver que o vento soprava lá fora. Sentiu um arrepio na espinha ao imaginar o frio que fazia. Abriu uma pequena brecha na janela para que a fumaça do cigarro pudesse sair. Se arrependeu de tê-lo feito após o primeiro calafrio. Olhou de volta para cama. A nudez dela era coberta apenas pelos lençóis ridiculamente brancos. Ela olhava para o teto e parecia perturbada pelo diálogo que acabara de ocorrer.  
-Talvez não seja uma boa ideia você estar aqui. – Ele disse mais pra si do que pra ela, mas ainda assim fixou os olhos em seu rosto para observar a sua expressão. Nada. Ela não esboçava emoções. Apenas mordia o lábio inferior, como sempre fazia quando as coisas não saiam do seu jeito.
-É, você tem razão. Eu não deveria estar aqui. – Mais uma vez, nada.  O teto continuava prendendo a sua atenção como ele jamais conseguira. De maneira brusca ela se levantou e começou a se vestir. Ele a observava enquanto punha cada peça de roupa. Quando acabou ela sorria pra ele. Sorria daquele modo bobo e infantil. Aquele sorriso que ele odiava adorar. Ele já sabia o que viria. Sabia que ela arruinaria esse momento com mais um dos seus comentários levianos ou mais uma das suas atitudes impensadas. Sabia que ela estragaria tudo. Ela sempre fazia isso. Só estava esperando o momento certo.
Enquanto o momento certo não chegava, ele preferiu virar as costas e voltar a encarar a janela.
Ouviu quando ela se aproximou. Ouviu quando ela mexeu no seu maço de cigarros e tomou um para si sem pedir permissão. Ouviu enquanto ela brincava com o isqueiro e sentiu o calor da primeira tragada. Olhou por cima do ombro, apenas uma menina sentada na beira de sua cama fumando os seus cigarros e lendo o seu jornal. Não, aquilo não estava certo.
Ela percebeu o seu desconforto, e ele bem sabia disso.
Sem tirar o sorriso dos lábios foi até ele, que continuava de costas, e o abraçou. Achou divertido contar quantas sardas ele tinha nos ombros enquanto se concentrava em soprar a fumaça pela brecha da janela. Ela era indiferente à sua frieza. Era o oposto, calorosa e carinhosa. Era sempre uma proporção. Quanto mais fogo ela demonstrasse, mais frio ele seria.
-Hey?
- Que foi?
-Você me ama? – Ela tinha achado o momento certo. Ele suspirou irritado e se afastou de maneira bruta.
-Por que você sempre tem que estragar tudo?
-Foi só uma pergunta. Não precisa responder se não quiser. – Ela continuava sorrindo, o que o deixava ainda mais irritado.
-Olha, você precisa parar com isso! Precisa começar a pensar antes de falar ou agir. Já chegou a hora de agir como uma adulta.
-Qual o seu problema comigo?
-O meu problema é justamente você. O meu problema é olhar pra você e enxergar apenas uma folha de papel em branco e um par de olhos tão escuros que eu não conseguiria ler ainda que usasse uma lupa. O meu problema é você achar graça de tudo e não se importar com nada. Esse é o problema.  – Ele estava vermelho e irritado. Não disse tudo o que queria dizer. Não disse que ela estava atrapalhando a sua vida. Não disse que o timing dela era péssimo, que o seu lado infantil super presente era ridículo, que sua risada era irritante e que poucas coisas o deixavam tão irado quanto o seu jeito inconveniente. Não disse, mas isso preferiu guardar pra si, que o que o irritava mais era o fato de sentir uma falta absurda de todas essas coisas quando ela não estava por perto.
-Eu acho que o seu maior problema está em você mesmo. – Dessa vez não havia sorriso. Agora era ela quem encarava a janela. Apagou o cigarro no cinzeiro e calçou os sapatos. Hesitou um pouco antes de pegar a bolsa. Parou ao lado dele que estava sentado na cadeira próxima à máquina de escrever. Ela nunca entendeu porque ele guardava aquele objeto quase que pré-histórico, mas quando ele lhe mostrou como utilizá-la ela passou a querer uma para si. Sem que ele esperasse, ela se abaixou e beijou-lhe os lábios. Um beijo rápido, seco e inesperado.
-Você vê? É disso o que eu falo. Você não pode agir assim sempre, de acordo com os seus impulsos.
-Eu tive muito tempo pra pensar nisso. Acredite. – E da mesma maneira inesperada com que entrou por aquela porta, ela saiu.

11 de mar. de 2012

Panaceia


Amanhã vai chover, ou não.
Tudo está dormente, apagado... quase em letargia.
O medo do não sentir cresce. Abro espaço para o vazio.
Pode ser melhor, ou não.
A auto preservação não combina com a intensidade.
Tudo parte do empírico. Sou formuladora das minhas teorias e aforismos.
Subjetivismo confuso.
Qual é a lógica disso tudo?
Se não vem da observação, vem de onde então?
Não quero saber! Não me interessa.
Meu paradoxo me perturba. Sou dois opostos que se auto atraem. Ideias tão contrárias que não combinam entre si, mas de alguma forma conversam.
Teorias e convenções.
Como cabe tanta coisa em uma só cabeça? Pensamentos claustrofóbicos, enclausurados e amarrados. Eles gritam por liberdade. Gritam, mas só eu escuto.
A cura pra todos os males.
Existe cura para todos os meus males? São tantos...
Diálogos vazios e monólogos construtivos. Tudo sempre convergindo para o mesmo ponto.
Você não é o umbigo do mundo, minha cara.
Desejar o silêncio pode não trazê-lo.
Desejar demais pode até doer.
Penso, logo não durmo.

3 de mar. de 2012

Beijo Periférico

Nesse momento, o bom é ter discernimento pra entender o que é sim, não, o que é perfeito.
Você no caso, meu caso não é perdido. Pelo contrário, eu desafio!
Se for divertida, amizade colorida e se a história é dolorida, eu não.  Perfeição não leva a nada se maltrata o coração.
Agradeço e me pergunto pelo avesso pra entender o que é bom, mal, quem vem primeiro.
Quem se atira ou tira o corpo fora. Quem se dispara não se dissipa.
Se for desastrada, distraída, embaraçada se a história está errada, eu não me arrisco.
Se for desarmada, natural, envenenada, uma história improvisada. eu me arrisco no seu beijo periférico.

25 de fev. de 2012

2012

Escrito em 01/01/2012


Quero começar 2012 diferente!
Quero mais comprometimento, seriedade e maturidade.
Mais diversão, mais risos e mais noitadas.
Mais sono, menos café.
Menos doces, carne vermelha, fritura e refrigerante.
Mais verde, mais saúde.
Mais amigos, mais gente interessante, mais beijos.
Menos choro, mais choro.
Chorar lava a alma, assim como a chuva.
Mais chuva! Mais banhos de chuva.
Menos catástrofes.
Mais trabalho, mais estudo, mais livros.
Mais música boa, mais Rock'n Roll.
Muito Rock'n Roll!!
Menos "tudo bem".
Mais "não".
Menos mentiras, mais verdade.
Mais amor, muito amor!
Menos raiva, rancor e preocupação.
Menos vingança.
Mais do que eu gosto, mais de quem eu gosto.
Menos importância para a opinião dos outros.
Menos tempo para quem não gosta de mim.
Mais tempo para quem gosta.
Menos fofoca.
Mais histórias engraçadas.
Mais do que é bom! Menos do que é ruim!
Equilíbrio entre os dois.
Equilíbrio...mais equilíbrio.
Sabedoria para discernir.
Pode entrar, ano novo!
Venha, mas venha com tudo para que não reste dúvidas de que é um novo começo.

8 de jan. de 2012

...


Branco.
Pensamentos confusos
Palavras desconectadas
Minha bagunça
Garrafa cheia
Maço de cigarros
Fogo
Sozinha


Paro pra pensar.
Tento organizar por assuntos
Abro as gavetas
Ponho tudo pra fora
É tanta coisa...
Confusão
Confusa

Madrugada.
Café amargo
Garrafa vazia
Outro maço
Olheiras

Muitas pessoas.
Euforia
Música alta
Risadas
Luzes
Vazio

A sensação que fica é a pior.
Sempre falta alguma coisa
Nunca sei o que é


“É muita informação passando pela mente. Não dá pra entender, não dá pra decifrar o que a gente sente.”