15 de abr. de 2012

"Depende de como e quando você me vê passar"


Enquanto a menina brincava em seu canto, a mulher gostava de observá-la.
A menina é espontânea, a mulher desconfiada.
As duas subverteram os papéis.
A mulher tenta parecer ingênua.
A menina brinca de seduzir.
A menina tem corpo de mulher.
A mulher tem rosto de menina.
A menina se aventura entre livros complexos e filmes difíceis.
A mulher escuta Taylor Swift quando ninguém está olhando.
A menina gosta de sexo, drogas e rock’n roll.
A mulher prefere um suquinho de laranja.
A mulher grita, pula e se joga  no chão como uma menina.
A menina geme, sussurra e arranha, exatamente como uma mulher.
Primeiro vem a menina, calma, doce e meiga.
Depois vem a mulher, urgente, intensa e madura.
A mulher diz que a menina é uma bela dissimulada.
A menina acha que a mulher deve arriscar mais.
A mulher é insegura.
A menina acha que pode tudo.
A mulher sonha.
A menina vive. E como vive!
A mulher quer ser menina pra sempre.
A menina morre de medo de se tornar uma mulher.
Cada dia que passa a menina é mais mulher e a mulher é mais menina.
As duas vivem assim, nesse conflito interminável carregado de uma admiração incondicional.
Um paradoxo perfeito.
Duas coisas combinadas em uma só.
Pobre da criatura que carrega a menina e mulher dentro de si. Pobre, pobrezinha!
Ou não.
Ela pode acordar e ser a menina.
Ela pode não dormir e querer ser a mulher.
Pode ser encantador.
Pode ser perigoso.
É preciso saber lidar.
E, sinceramente, não acho que você consiga.