30 de mar. de 2012

Conversa com as cores ou Para quê elas servem mesmo?


Branco.
Folha em branco.
Mente em branco.
Uma vontade imensa de viver e por tudo pra fora.

Preto.
Café preto.
Lápis preto.
Palavras cuspidas que parecem não querer sair.

Cinza.
Dia cinza.
Céu cinza.
Chumbo como os olhos que eu dia eu tive aqui.

Azul.
Noite azul.
Bebida azul.
Sorrisos efusivos e olhares furtivos.

Preto.
Branco.
Não existe o cinza entre eles, e as outras cores são só lembranças distantes.

Branco.
Preto.
Silêncio.
Paz.

25 de mar. de 2012

Só mais uma estatística


Mamãe,
mal consigo lembrar a última vez que te escrevi uma carta. Queria que a oportunidade fosse melhor do que esta.
Eu errei tanto, mãe. Tanto que não consigo mais conviver com os meus erros.
Você sabe que, desde menino, meu ídolo sempre foi o Super-Homem. Sabe que eu sempre quis ser como ele. Fazer isso defendendo a minha pátria não parecia ruim. Mas a parte ruim chegou.
Não eram só medalhas, honras e méritos. Havia sangue, muito sangue. Agora ele escorre pelas minhas mãos.
Eu fui disposto a caçar e exterminar monstros terroristas cuja alma já estava condenada. Eu procurei por eles, mãe! Acredite, eu procurei! Ansiei por encontrá-los nos olhos da primeira criança que eu matei. Mas veja que lástima, eles não estavam lá. Eram só mulheres, crianças e velhos.
Eu fui para me tornar um herói. Volto me sentindo o pior dos vilões.
Uma marionete usada por aqueles que começaram isso tudo. Uma vida por um poço de petróleo e áreas de influência.
Eu me lembro daquela mulher em Bagdá, ela andava com um objeto agarrado ao corpo por baixo de sua burca.  Algo que ela guardava como a própria vida. Só podia ser uma bomba. Atirei antes que ela explodisse. Quando fomos verificar o corpo, o choro do bebê no braço de sua mãe morta nos pegou de surpresa.
O choro daquele iraquiano órfão me perturba enquanto escrevo.
Acredita que ele virou apenas mais uma estatística?
As vozes falam alto demais.
Elas gritam em meu ouvido.
Preciso calá-las!
Já matei gente demais.
Chegou a hora de me matar.  

17 de mar. de 2012

- Por que você é tão estranha?


- Estranha? Como assim?
-É, estranha.  Assim, imprevisível, inconstante...
-E isso é sinônimo de estranheza?
-Em você é. – Após a última frase houve um longo momento de silêncio entre os dois. Ela sabia que todas aquelas palavras martelavam na cabeça dele. Sabia o tempo todo. Mas nunca imaginou que este assunto viesse a ser colocado em pauta. Sem avaliar muito bem o que dizia, ela continuou.
-Bom, não sei porque sou assim. Sou assim e pronto. Você só pode gostar ou não, e não ficar questionando.
-Não precisa ser hostil.
-Não estou sendo hostil! Só estou respondendo a sua pergunta. – Como se não aguentasse mais aquela conversa vazia, ele se levantou e foi à janela. Pelo movimento das folhas das árvores podia ver que o vento soprava lá fora. Sentiu um arrepio na espinha ao imaginar o frio que fazia. Abriu uma pequena brecha na janela para que a fumaça do cigarro pudesse sair. Se arrependeu de tê-lo feito após o primeiro calafrio. Olhou de volta para cama. A nudez dela era coberta apenas pelos lençóis ridiculamente brancos. Ela olhava para o teto e parecia perturbada pelo diálogo que acabara de ocorrer.  
-Talvez não seja uma boa ideia você estar aqui. – Ele disse mais pra si do que pra ela, mas ainda assim fixou os olhos em seu rosto para observar a sua expressão. Nada. Ela não esboçava emoções. Apenas mordia o lábio inferior, como sempre fazia quando as coisas não saiam do seu jeito.
-É, você tem razão. Eu não deveria estar aqui. – Mais uma vez, nada.  O teto continuava prendendo a sua atenção como ele jamais conseguira. De maneira brusca ela se levantou e começou a se vestir. Ele a observava enquanto punha cada peça de roupa. Quando acabou ela sorria pra ele. Sorria daquele modo bobo e infantil. Aquele sorriso que ele odiava adorar. Ele já sabia o que viria. Sabia que ela arruinaria esse momento com mais um dos seus comentários levianos ou mais uma das suas atitudes impensadas. Sabia que ela estragaria tudo. Ela sempre fazia isso. Só estava esperando o momento certo.
Enquanto o momento certo não chegava, ele preferiu virar as costas e voltar a encarar a janela.
Ouviu quando ela se aproximou. Ouviu quando ela mexeu no seu maço de cigarros e tomou um para si sem pedir permissão. Ouviu enquanto ela brincava com o isqueiro e sentiu o calor da primeira tragada. Olhou por cima do ombro, apenas uma menina sentada na beira de sua cama fumando os seus cigarros e lendo o seu jornal. Não, aquilo não estava certo.
Ela percebeu o seu desconforto, e ele bem sabia disso.
Sem tirar o sorriso dos lábios foi até ele, que continuava de costas, e o abraçou. Achou divertido contar quantas sardas ele tinha nos ombros enquanto se concentrava em soprar a fumaça pela brecha da janela. Ela era indiferente à sua frieza. Era o oposto, calorosa e carinhosa. Era sempre uma proporção. Quanto mais fogo ela demonstrasse, mais frio ele seria.
-Hey?
- Que foi?
-Você me ama? – Ela tinha achado o momento certo. Ele suspirou irritado e se afastou de maneira bruta.
-Por que você sempre tem que estragar tudo?
-Foi só uma pergunta. Não precisa responder se não quiser. – Ela continuava sorrindo, o que o deixava ainda mais irritado.
-Olha, você precisa parar com isso! Precisa começar a pensar antes de falar ou agir. Já chegou a hora de agir como uma adulta.
-Qual o seu problema comigo?
-O meu problema é justamente você. O meu problema é olhar pra você e enxergar apenas uma folha de papel em branco e um par de olhos tão escuros que eu não conseguiria ler ainda que usasse uma lupa. O meu problema é você achar graça de tudo e não se importar com nada. Esse é o problema.  – Ele estava vermelho e irritado. Não disse tudo o que queria dizer. Não disse que ela estava atrapalhando a sua vida. Não disse que o timing dela era péssimo, que o seu lado infantil super presente era ridículo, que sua risada era irritante e que poucas coisas o deixavam tão irado quanto o seu jeito inconveniente. Não disse, mas isso preferiu guardar pra si, que o que o irritava mais era o fato de sentir uma falta absurda de todas essas coisas quando ela não estava por perto.
-Eu acho que o seu maior problema está em você mesmo. – Dessa vez não havia sorriso. Agora era ela quem encarava a janela. Apagou o cigarro no cinzeiro e calçou os sapatos. Hesitou um pouco antes de pegar a bolsa. Parou ao lado dele que estava sentado na cadeira próxima à máquina de escrever. Ela nunca entendeu porque ele guardava aquele objeto quase que pré-histórico, mas quando ele lhe mostrou como utilizá-la ela passou a querer uma para si. Sem que ele esperasse, ela se abaixou e beijou-lhe os lábios. Um beijo rápido, seco e inesperado.
-Você vê? É disso o que eu falo. Você não pode agir assim sempre, de acordo com os seus impulsos.
-Eu tive muito tempo pra pensar nisso. Acredite. – E da mesma maneira inesperada com que entrou por aquela porta, ela saiu.

11 de mar. de 2012

Panaceia


Amanhã vai chover, ou não.
Tudo está dormente, apagado... quase em letargia.
O medo do não sentir cresce. Abro espaço para o vazio.
Pode ser melhor, ou não.
A auto preservação não combina com a intensidade.
Tudo parte do empírico. Sou formuladora das minhas teorias e aforismos.
Subjetivismo confuso.
Qual é a lógica disso tudo?
Se não vem da observação, vem de onde então?
Não quero saber! Não me interessa.
Meu paradoxo me perturba. Sou dois opostos que se auto atraem. Ideias tão contrárias que não combinam entre si, mas de alguma forma conversam.
Teorias e convenções.
Como cabe tanta coisa em uma só cabeça? Pensamentos claustrofóbicos, enclausurados e amarrados. Eles gritam por liberdade. Gritam, mas só eu escuto.
A cura pra todos os males.
Existe cura para todos os meus males? São tantos...
Diálogos vazios e monólogos construtivos. Tudo sempre convergindo para o mesmo ponto.
Você não é o umbigo do mundo, minha cara.
Desejar o silêncio pode não trazê-lo.
Desejar demais pode até doer.
Penso, logo não durmo.

3 de mar. de 2012

Beijo Periférico

Nesse momento, o bom é ter discernimento pra entender o que é sim, não, o que é perfeito.
Você no caso, meu caso não é perdido. Pelo contrário, eu desafio!
Se for divertida, amizade colorida e se a história é dolorida, eu não.  Perfeição não leva a nada se maltrata o coração.
Agradeço e me pergunto pelo avesso pra entender o que é bom, mal, quem vem primeiro.
Quem se atira ou tira o corpo fora. Quem se dispara não se dissipa.
Se for desastrada, distraída, embaraçada se a história está errada, eu não me arrisco.
Se for desarmada, natural, envenenada, uma história improvisada. eu me arrisco no seu beijo periférico.