14 de abr. de 2013

O vento que sopra aqui

Se eu pudesse escolher eu escolheria te trancar num quarto escuro. No meu quarto escuro.
Eu escolheria sair desse mundo, nem que fosse por pouco tempo. Sair desse mundo em que não podemos nem existir. Esse mundo que nos sujeita a um canto úmido e mal iluminado, que nos larga por lá com uma mensagem de “se virem como podem” na testa.
Se eu tivesse o poder eu mudaria tudo. Sim, eu admito, mudaria tudo. Talvez se eu não fosse eu e você não fosse você, mas continuássemos sendo nós mesmos, nós seriamos permitidos.

E não me peça calma. Não me peça pra não ter pressa. Eu preciso sempre correr, só pra ter a chance de sentir de novo aquele choque.  Aquele choque. O que eu te falei. Sobre o qual você me falou. Aquela corrente de energia ou tesão, ainda não sei ao certo, que passamos um ao outro ainda que por fibra óptica.
Se for pra pedir deixa que eu peço. Eu peço pouco, juro. Você nunca pede nada. Eu me sinto até culpada de vez em quando. Mas a culpa passa quando eu lembro que você pede em silêncio. Tudo em você é silencioso, e eu entendo perfeitamente o que você grita no silêncio. Ainda que eu finja que não, acredite eu entendo. Sempre desacreditaram de mim quando eu comentava o meu talento de ler entrelinhas. Tanto que eu quase deixei de lado. Mas com você ele foi exercitado ao level máximo. Eu achei, eu li, eu captei. Mas eu gosto de te ouvir dizer em voz alta.

E agora podemos parar com as brincadeiras? Eu não quero brincar disso. Você tem razão, eu sou o lado mais fraco. Eu vou sempre perder e sou uma má perdedora. Não quero mais brincar. Não quero quedas de braço com você. Quero os seus braços em volta do meu corpo. E só. Não quero trazer pessoas pro nosso mundo. Esse mundo que a gente inventou só tem espaço pra nós dois. Não cabe mais ninguém. Vamos expulsá-los daqui. Da mesma forma que eles nos expulsaram do mundo deles. Da mesma forma que não podemos ser lá, eles não podem ser aqui.


Continue soprando aquele sopro que só você tem. Eu continuo me movendo de acordo com o seu vento. Eu quero ser a parte mais gostosa do seu prato, aquela que você deixa pro final. Se eu começar a me misturar à parte comum perde a graça. Não me mande pra lá, ok? Eu prometo que faço o mesmo com você. Prometo que guardo um lugar especial e diferenciado. Mas tem que ser no nosso mundo. Aquele em que só cabemos nós dois. Aquele que é o oposto desse aqui. Mas (por favor, diga se você discorda) acabou ficando mais gostoso.