1 de jul. de 2013

Sobre clichês, olhos e bagunça

Eu sempre tive preconceitos com clichês. Primeiro porque a palavra me parecia estranha, não podia ser coisa boa; depois porque todo mundo parecia ser contra, e a gente passa por certa fase na nossa vida que tudo o que a gente quer é ser igual a todo mundo; e por fim porque eu descobri que gostava mesmo era do diferente, do inusitado, do que não era facilmente visível. E quando rejeitar clichês é clichê? E quando a gente descobre que todo mundo reluta, mas no final o que querem mesmo é um bom clichê? Foi assim que eu aceitei que eu também preciso de alguns.

A questão sobre os clichês é que eu sempre tento fugir deles, até inconscientemente. Essa minha paixão pelo que não é óbvio não tem muita explicação. Eu gosto do que é bom aos meus olhos, e se você pudesse se ver pelos meus olhos você se apaixonaria por si mesmo. Eu enxergo tão longe, e não estou falando isso pelos superpoderes das minhas imensas lentes. Eu enxerguei há um tempo. Talvez coisas que ninguém enxergaria, ou quase ninguém, mas eu sim. E talvez a graça seja essa mesmo, que só eu enxergue. Porque se todo mundo visse, se todo mundo soubesse, se todo mundo descobrisse... não gosto nem de pensar. A graça é ser meu e só meu. Meu ponto de vista. Meus olhos. Já disse que te empresto, mas só um pouquinho. Porque eu vou precisar deles pra te enxergar desse jeito.

E olhando assim eu acho que você tem o mesmo defeito de fábrica que eu. Sabe, eu queria que alguém me olhasse com os olhos que eu olho pra você. Só pra ver se faz efeito, entende? Porque eu entendo sua inquietação. Eu também não me sentiria confortável com alguém me olhando assim, porque parece que não somos dignos de ser olhados desse jeito, ou que no mínimo é uma grande perda de tempo do observador. Você também acha? É, eu já sabia. Mas mesmo assim eu queria. Porque essa maneira que eu te olho é muito intensa. E eu não acho que ninguém entenda, porque é só mais um componente da imensa bagunça que eu sou. Eu sou toda bagunçada e torta, e eu nem me atrevo a parar pra te contar porque por muito menos você já evaporou pelos buraquinhos da tampa. Você tá certo. Corre mesmo! Vai pra longe de mim porque as minhas intenções são as piores. Eu sou bagunça e você é uma gaveta de meias, organizada em degradê.

Mas eu sou uma bagunça e bagunço com tudo ao meu redor. Vai pra bem longe de mim! Por Deus, você é bom demais, não quero te bagunçar também. Dá uma olhada no meu quarto, tenta ajeitar as minhas roupas, olha o estado do meu cabelo... tudo sempre fora de ordem. E eu levo tantas vidas, e mesmo assim não consegui arrumar nenhuma delas.  Mas você disse alguma coisa. Eu vou parar e escutar. Espera, não adianta, eu só escuto o que quero ouvir. Eu baguncei todas as suas frases. Subverti toda a intenção, porque eu sou uma subversiva mesmo. Sai daqui antes que eu te vire pelo avesso!  Não, volta que sua camisa tá ao contrário de verdade! Não pega bem sair por aí assim.

Você tem todo esse trejeito de falta de jeito, e eu tenho jeito pra acabar com isso. Mas isso é porque eu te olho com esses meus olhos superpotentes, esses que pintam tudo em HD e me fazem enxergar no superlativo. E eu gosto do seu jeito. Gosto ou gostei, tô na dúvida sobre qual cabe melhor. É diferente. Foge do clichê. Dos meus clichês pelo menos. Eu gostei assim, com os lábios perdidos, as mãos afobadas e o corpo meio trêmulo. Então sai daqui, porque o que eu quero é te guiar. Foge de mim, porque eu venho com uma placa de “Perigo” colada na testa. Foge! Continua fugindo que você tá certíssimo. Só não tenta arrumar a bagunça. Não tenta, porque com esses meus olhos eu vou acabar deixando. Não se aproxima assim não! Eu sou mole, vou derreter rapidinho. Não diz que ama uma bagunça, porque eu te garanto que bagunça do tamanho da minha você ainda não encontrou por aí. Pelo menos não assim, usando vestidos e vestindo sorrisos meigos.