18 de dez. de 2011

Falta o dom


Eu sinto que tenho o que dizer.
Preciso expressar! Por pra fora de alguma maneira. Mas nada é suficiente.
É tanto, tanto que seriam necessárias 300 folhas como esta para expor tudo.
Posso começar me crucificando por ter deixado você tomar esse espaço todo em mim.
Não, eu comecei reclamando do fato de ser péssima em expressar o que sinto.
Agora tudo bem falar de você.
Não poderia te isentar da sua parcela de culpa. Na verdade, grande parte é culpa sua.
O “você” que eu fantasiei não é o “você” que eu conheci.
Isso dói.
Dói, porque os seus defeitos são graves.
Dói, porque assim não dá pra suportar.
E eu choro, me humilho, me sinto mal.
Eu uso as pessoas pra apagar você. E isso é horrível!
Eu sou horrível!
E faz tanto calor, e o verão já está na porta. E como você bem sabe, eu odeio o verão.
Tento me ater à chuva.
Só escuto a chuva. Nada além da chuva.
Mas ela passa. E a agonia volta.
Volto a usar as pessoas.
Bocas, olhos, mãos e peles. Nada se compara a você.
E eu comparo tudo com você. Tudo e todos.
A culpa é sua!
Quem não presta é você! E fica muito mais fácil se eu pensar assim.
Não sou supersticiosa, mas essa época do ano é engraçada. Sempre acontecem as mesmas coisas comigo. Sempre deixo as mesmas preocupações pro final do ano.
Fica mais fácil se eu lembrar que você me machuca de propósito.
Deveria ficar mais fácil, mas não fica.
A culpa é minha!
Eu que gosto de sofrer! Me contento em ser machucada, sinto necessidade disso.
Você só soube explorar.
Escrevi, escrevi, escrevi (ou melhor, cuspi) e não disse nada.
Porque eu não sei me expressar.
Porque eu tentei fotos, figuras, cores, imagens, sons e palavras. Mas nada disso foi suficiente.
Continua a agonia.
Continua a prisão.
Continua você.

14 de out. de 2011

The Unnamed Feeling


É uma sensação difícil de descrever.
Começa com um aperto, depois vira um vazio e eu não consigo identificar o que o preenche.
Seria culpa?
Mas pelo quê?
Não carrego mais o peso da auto-acusação. Não deixo que ninguém me acuse. E aprendi a usar a religião ao meu favor, e não contra mim.
Seria dor?
O que dói então? Acredito que não tenha sobrado nenhuma ferida aberta, esperando pela cicatrização.
Seria preocupação?
Mais aceitável. Porém tão subjetivo.
Me perco em pensamentos tentando descobrir o motivo, mas continuo no vazio.
Tento preencher, puxar, vasculhar cada canto. Mas nada acontece!
Fecho os olhos e os aperto, até o que o vazio de não saber o que me incomoda suma.
Penso em coisas boas. Tento me subornar com elas, fazendo um trato comigo mesma para não pensar nas ruins.
Lá se vai mais um dia. 
Mal vai embora e eu já começo a me munir para as próximas ocasiões.

8 de ago. de 2011

Cuide de você

Sophie,
Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz.
Mas pelo menos será por escrito.
Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a "quarta". Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as "outras", não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.
Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e "generoso", se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu "desassossego" se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as "outras".
E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando.
Jamais menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que você impôs no início da nossa história: no dia que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,...) e compreensível (obviamente); com isso, jamais podeira me tornar seu amigo.
Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de aprender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita.
Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.
Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.
Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.
Cuide de você.

X

29 de jul. de 2011

Ocean Avenue


There's a piece of you that's here with me
It's everywhere I go, it's everything I see
When I sleep I dream and it gets me by
I can make believe that you're here tonight.



29 de jun. de 2011

Assinado Eu

Já faz um tempo que eu queria te escrever um som.
Passado o passado, acho que eu mesma esqueci o tom.
Mas sinto que eu te devo sempre alguma explicação.
Parece inaceitável a minha decisão.
Eu sei.
Da primeira vez, quem sugeriu, eu sei, eu sei, fui eu. Da segunda, quem fingiu que não estava ali, também fui eu. Mas em toda história, é nossa obrigação saber seguir em frente, seja lá qual direção.
Eu sei.
Tanta afinidade assim, eu sei que só pode ser bom.
Mas se é contrário, é ruim, pesado e eu não acho bom.
Eu fico esperando o dia que você me aceite como amiga, ainda vou te convencer.
Eu sei.
E te peço, me perdoa?
Me desculpa que eu não fui sua namorada, pois fiquei atordoada.
Faltou o ar.
Faltou o ar.
Me despeço dessa história, e concluo: a gente segue a direção que o nosso próprio coração mandar, e foi pra lá, e foi pra lá.
E te peço, me perdoa?
Me desculpa que eu não fui sua namorada, pois fiquei atordoada de amor.
Faltou o ar.
Faltou o ar.
Me despeço dessa história e concluo: a gente segue a direção que o nosso próprio coração mandar.
E foi pra lá, e foi pra lá, e foi pra lá.

Tiê

6 de jun. de 2011

Ensaio sobre a falta

Hoje resolvi falar sobre a falta que você não me faz. Sobre a saudade que eu não tenho e sobre o cheiro que eu não sinto. Resolvi falar sobre o beijo que você não me deu pela manhã. Ou será que era noite? Sobre o caderno de rascunhos que você não esqueceu na minha casa, e sobre o pen drive repleto de música boa que você não deixou no meu carro. Hoje eu quis falar sobre como você não influencia tudo o que eu faço, e que nada do que eu escrevo é sobre você.
Eu quis falar, mas eu sei que você nunca acredita no que eu digo.
Eu quis gritar pra mim que não é você quando eu olho no espelho, que os meus gestos não refletem os seus e que você não contribuiu para nada do que eu sou. Quis me convencer de que eu não preciso de você. Quis me isentar da minha parcela de culpa. Quis dizer que você já era uma página virada e depois arrancada do meu livro.
Eu quis dizer, mas eu sei que já não dá pra acreditar o que eu digo. 

5 de mai. de 2011

Não precisa fazer sentido

Vontade. Quero, mas não posso. Não quero, mas seria tão mais fácil. Ainda espero pelo que não conheço. Ainda me divirto com todos que posso.
Impulso. Sempre tenho impulsos. Sempre ajo por impulsos. Impulsiva, é o que eu sou.
No momento tenho vontade e sinto o impulso. Mas pela primeira vez não penso só em mim.
Como suceder?
Não faz diferença se é ou não você. Faz diferença se for alguém. Um alguém qualquer.
Faz diferença se for hoje. O que eu quero é pra agora. O que eu preciso é pra depois.
Eu e eu. Sempre nos entendemos. Sempre nos ajudamos. Nos gostamos tanto que esquecemos o mundo ao redor para nos ajudar.
Que horrível confessar isso! Mas não é melhor ser sincera?
De alguns, eu quero distância. De outros, eu quero um certo nível de proximidade. O fato é que nenhum deles é importante pra mim.
O que eu quero? Aah, é muito bom!
E o que eu preciso? Não parece ser tão bom assim.
Prefiro o incerto. O que parece bom agora.  Prefiro ceder as minhas vontades e impulsos e assim, finalmente, ser feliz. Nem que seja por um segundo.
E o arrependimento?
Já estou acostumada a lidar com ele mesmo.

11 de abr. de 2011

Let's stay in tonight!

Nós não precisamos de amigos ou barulho para sermos felizes. Não essa noite. Tudo o que você precisa sou eu, e aquela garrafa de vinho tinto que estava guardada para uma ocasião especial. Essa é especial o suficiente pra você? Sabe, eu também estou de olho naquele vinho, mas eu acho que só você tem o que eu realmente preciso.
Let's get drunk tonight!
Vamos deixar os sentidos serem abalados, um a um, e depois, vamos esquecer que os possuímos. Você pode tocar aquele seu cd antigo dos Beatles, e cantar "Oh Darling" com a sua voz rouca no meu ouvido. Eu quero dançar com você. Quero passar as mãos nos seus cabelos loiros e afastá-los dos olhos para você. Quero aproximar o meu corpo do teu, perto o suficiente para ver os seus olhos verdes ficarem tão escuros quanto a noite.
Let's make love tonight!
Eu posso dançar pra você. A essa altura, com o meu hipotálamo completamente afetado, eu posso fazer qualquer coisa. Nós vamos acabar dançando juntos novamente. Ainda que esteja errado. Não importa! We are drunk, e é exatamente a desculpa que precisamos. Embora eu saiba que de manhã você não vai estar lá. Eu não vou ganhar um "bom dia" e nem um beijo na testa, e isso vai me perturbar depois. Mais do que a dor da cabeça que insiste em latejar. Eu não posso reclamar, você já foi generoso o suficiente deixando o gosto do seu cigarro na minha língua, o cheiro do seu suor misturado com seu perfume no meu lençol e é claro, o seu cd tocando no meu rádio. Tocando, para que eu sempre me lembre dessa maldita noite quando ouvir a droga dessa música. Você é foda!
No pior e no melhor sentido.

30 de mar. de 2011

Eu...Maria Clara


Eu me chamo Maria Clara.
Maria ou Clara, é a mesma coisa.
Quando eu sonho com meus erros, é a Clara quem sangra.
Quando eu estico a língua tenho um louco ataque de risos. Tão louco quanto um fenômeno.
Eu me chamo Maria Clara.
Maria da vida, Maria de amor diluvial.
Não é minha culpa.
E se eu quiser sair? Eu vejo os outros prontos para se jogarem sobre mim.
Não é só minha culpa se eu escuto tudo ao meu redor.
"Olá, você é uma (...)"
Uma inexperiente colegial com meias azuis de metileno.
Meu nome é Maria Clara.
Bem temperada e não. Sou metade algodão, metade lã.
A boca silenciosa não diz a mãe que eu sou. Eu sou um fenômeno.
Me chamo Maria Clara.
Maria da vida, Maria de amor diluvial.
"Olá, você é uma (...)"
Eu, Maria Clara.


21 de mar. de 2011

Amargos deletérios

Eu sabia que seria assim, mas fiz questão que acontecesse. Meus olhos treinados já estavam preparados para o reencontro. Me ater às paredes, janelas e louças! Sempre evitando seus olhos furtivos, é a única solução para não me trair. Dissipar os pensamentos, engolir as frases e te xingar só para mim. A porra da raiva esconde o amor, e o meu talento para a simulação esconde a raiva. Na minha mente, eu espanco ela. Achato a criatura achatada, mais do que a natureza já fez. Que alívio! Pra você, não consigo pensar em nada que seja ruim o bastante. Te brindo com o meu desprezo e com a minha indiferença. Ainda que seja difícil para mim, sei que te atinge.
Agora sim, que satisfação!

13 de mar. de 2011

Samba do grande amor

Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira



(Chico Buarque)

29 de jan. de 2011

Olhos negros


-Seus olhos são tão escuros! Quase não dá pra ver a pupila – ele disse enquanto olhava de perto e com atenção para aqueles olhos bem na sua frente.
-É, eles são misteriosos. – ela disse, mais brincando do que falando a verdade.
Misteriosos. Era essa a palavra que faltava, o adjetivo que ele estava procurando. Tentava, mas não conseguia entender o porquê de aqueles olhos chamarem tanto a sua atenção.
Negros e marcados, perdiam-se em meio ao rosto pequeno e harmonioso. Mas ainda assim ele os achou. Ele tentou o que pode até desistir de enxergar alguma coisa através daqueles olhos. O preto criou uma barreira, e era impossível descobrir o que ela guardava por trás.
De vez em quando surgiam alguns alarmes falsos. Quando parecia que algo ia escapar por uma brecha qualquer de dia, a noite voltava e acabava com qualquer possibilidade.
Ele se acostumou com isso, com os olhos misteriosos e com a caixinha de surpresas que era a sua dona. Descobriu que os olhos negros enganam até sem querer, e que fingem se perder para se proteger.

6 de jan. de 2011

Não estou pronta pra perdoar (e talvez nunca esteja)

Eu esperava mais de você. Esperava mais fidelidade, mais consideração, mais caráter.
Eu esperava menos de você. Esperava menos palavras, menos traições, menos filhadaputisse.
Não dá pra te culpar. Era só ter olhado melhor pra perceber que você é assim. Estava na minha cara o tempo todo, eu não vi porque não quis. Isso foi só você sendo você.
Você conseguiu me enganar com seus gestos superficiais.
Eu fui idiota por pensar que comigo seria diferente. No final, você faz isso com todo mundo.
Não se preocupe, você não me deve nada. Seu papel? Contribuiu de maneira absurda para o gelo que cresce e amadurece cada vez mais aqui dentro.
Eu não espero mais nada de ninguém. Mas de você, espero o pior.