18 de jan. de 2016

Mas eu sou intensa

Tem que ser um passo de cada vez, e com delicadeza pra não assustar.
Cada um tem o seu tempo, mas o meu é acelerado.
Eu me dou com tanta intensidade. E sinto na mesma medida. E me jogo, assim, de olhos fechados e braços abertos.
Mas é difícil achar quem aguente o tranco. Quem corresponda numa via de mão-dupla e sinta tudo igual.
Essa coisa de ser cinza, eu não sei não. Só sei ser preto ou branco. E por inteiro, que de metades eu já fiz coleção.
Mas é difícil achar quem se apegue ao toque. Quem feche os olhos pra gravar o cheiro e o gosto do beijo. E assim sempre fica incompleto.
Sei não, talvez eu  deva aprender a me dividir em metades também.
Mas é difícil convencer esse coração pulsante a bater mais devagar.

6 de jan. de 2016

Eu assumo formas

Às vezes eu sou esposa. Cozinho pra ele e faço todas as suas vontades, mas cobro de volta em forma de carinhos. Uso vestidos rodados e blush cor de rosa. Peço pra olhar as estrelas e dormir agarradinho.
Outros dias sou mulher. Visto a sua jaqueta e ando na garupa de sua moto com os braços abertos. Meu apetite por aventura o excita e torna as coisas mais divertidas. Óculos escuros e batom vermelho.
Tem momentos em que sou só solidão, e o afasto sem pestanejar. Mas ele volta e diz coisas bonitas que me derretem toda. E eu esqueço do medo e da raiva. E ele traz o café na cama e faz massagem nos pés. E eu peço pra parar porque assim eu não aguento não. Mas continua porque, na verdade, eu não to falando sério.
Ele, que não tem nome, mas já existe há tanto tempo em mim, toma formas e rostos para virar outra pessoa. Assim como eu.
E a gente se entende. Se basta e se completa. E eu peço pra não demorar, mas eu sei que as melhores coisas sempre chegam atrasadas.