5 de dez. de 2014

A paixão de transporte público

Ela acaba tão rápido quanto começa, mas enquanto dura é mais intensa do que muitos amores eternos jurados por aí.
Outro dia eu me apaixonei perdidamente dentro do 457. Estava chovendo e eu fiquei aliviada por conseguir o último lugar daquele ônibus lotado. Dois pontos depois o amor da minha vida entrou. Calça jeans, blusa branca e eu me senti dentro da música da Lana Del Rey. O guarda-chuva provavelmente estava com defeito, pois o cabelo molhado o estava denunciando. Ele sacode os cabelos bagunçados e eu esqueço como se respira por alguns segundos. Entra e para um lugar a minha frente. Felipe. Era esse o nome dele. Claro. Eu descobri só de olhar para o rosto.
Procuro instantaneamente a música tema do nosso romance no celular e já imagino como seria lindo o momento em que estivéssemos a sós ouvindo a melodia arrastada. Só eu e o Ricardo. Eu disse Felipe? Não. Ele era Ricardo. Com certeza.
No mundo restrito do 457 eu e o Ricardo trocávamos alguns olhares tímidos e significativos. Ou será que ele estava olhando a senhorinha tagarelando alto ao celular do meu lado? Não, nada disso. Era pra mim. Com certeza.
Olhando bem Ricardo era um nome muito comum pra alguém com uma expressão tão misteriosa. Gael. Nome curto. Forte. Cheio de personalidade. Gael. Isso. Eu e Gael. Contaria para as minhas amigas, a gente se viu no ônibus e puuf! Paixão à primeira vista. Ali, Na lata. Eu já sabia tudo sobre ele. Tinha uns 25 anos, era estudante de psicologia e adorava crianças. Eu rio da minha própria imaginação e falta de bom senso e (pasmem!) ele ri de volta. AI, MEU DEUS! Será que ele ouviu? Será que eu falei alto o que pensei? Será que ele leu meus pensamentos? Ou será que eu fiquei olhando pra ele com cara de idiota esse tempo todo e ele estava achando engraçado. Prefiro não descobrir e tomada de uma repentina timidez encaro a janela.
Quando volto a olhar o meu coração se parte em pedaços. Cadê o Gael?! Como assim ele foi embora? Como assim desceu e nem se despediu? Saltou em um ponto qualquer de Vila Isabel e levou meu coração junto com ele. Mas e a nossa vida juntos que começaria dali em diante? E os nossos filhos fruto dessa paixão avassaladora. É. Gael partiu meu coração ao meio e me deixou sozinha para colar os cacos até o bairro das Laranjeiras.
Ainda um pouco arrasada desço do ônibus quando chega meu destino. Aquela música toca em looping no meus fones e eu continuo sonhando com o sorriso tímido do Gael. Vou atravessar a rua e pah... quase sou atropelada por uma bicicleta pensando no Gael.
“Tá tudo bem, moça?”
O Rodrigo me pergunta com os olhos mais verdes que eu já vi na minha vida.
Gael? Quem era mesmo?
Ah, não. Tudo de novo não!

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