15 de jan. de 2013

Crônica nº 2


Hoje foi um daqueles dias em que eu acordei com uma estranha vontade de viver. Uma olhada na janela. Cinza. Exatamente como no meu sonho. Só que real. Vesti a melhor roupa, deixei os cabelos soltos e calcei o melhor sapato. Talvez, só por hoje, tudo desse certo.
A chuva que eu tanto gosto caía com uma certa insistência. Não posso reclamar. Quando ela não vem eu sinto saudades. Achei melhor fechar os olhos. Os de dentro. E me imaginar junto com ela, a chuva, mas em outra situação. Eu estaria andando apressadamente por Paris. Mas aí eu me daria conta de onde estou, e que Paris na chuva é tão mais bonito, e afrouxaria o passo.
Se era faz de conta eu podia fazer de conta que estava indo te encontrar. Você estaria me esperando num café, com um expresso em sua mesa, o livro do qual conversamos e os seus braços quentinhos. Eu sei o quão quentes eles podem ser porque eu já pude experimentar. Você me avista pela janela embaçada. Sorri pra mim e eu abraço o casaco com mais força. Logo ele não será tão necessário. Talvez eu peça um expresso também. Você vai me abraçar forte e perguntar sobre o meu dia. Eu quero ouvir tudo sobre o seu. E eu vou me fazer na sua barba. De que importa se meus pés estão encharcados? Eu só quero que você roce o seu queixo no meu pescoço.
A buzina do carro me desperta pra realidade. Não. Eu não estou em Paris e você não está aqui. A falta é tanta que chega a doer. Porque na verdade você está. Mas não está. E eu não estou porque você não me deixa estar. Então eu sigo. Porque você não é o primeiro e nem será o último. Mas foi um dos poucos que conseguiu furar o muro. O problema é que você deixou o buraco, mas esqueceu de pendurar o quadro.

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