6 de jan. de 2016

Eu assumo formas

Às vezes eu sou esposa. Cozinho pra ele e faço todas as suas vontades, mas cobro de volta em forma de carinhos. Uso vestidos rodados e blush cor de rosa. Peço pra olhar as estrelas e dormir agarradinho.
Outros dias sou mulher. Visto a sua jaqueta e ando na garupa de sua moto com os braços abertos. Meu apetite por aventura o excita e torna as coisas mais divertidas. Óculos escuros e batom vermelho.
Tem momentos em que sou só solidão, e o afasto sem pestanejar. Mas ele volta e diz coisas bonitas que me derretem toda. E eu esqueço do medo e da raiva. E ele traz o café na cama e faz massagem nos pés. E eu peço pra parar porque assim eu não aguento não. Mas continua porque, na verdade, eu não to falando sério.
Ele, que não tem nome, mas já existe há tanto tempo em mim, toma formas e rostos para virar outra pessoa. Assim como eu.
E a gente se entende. Se basta e se completa. E eu peço pra não demorar, mas eu sei que as melhores coisas sempre chegam atrasadas.

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