10 de nov. de 2014

Medos dentro de caixas

Ele teve tudo em mãos, mas não soube aproveitar.
No meio das minhas catástrofes e catarses eu só queria alguém que enxergasse além das minhas retinas.
Eu estava exposta e entregue nas minhas palavras, mas ele preferiu tremer de medo ao invés de devorar cada uma delas.
Eu me mostrei e me abri como um origami desfeito para que ele notasse as linhas e acertasse o desenho. Mas dobrar de volta era trabalhoso e ele não se sentia capaz.
Eu estiquei tapetes e ele construiu muros de silêncio e insegurança.
Assim eu não pude. Assim eu não quis.
Minha paixão por detalhes fez com que eu enxergasse o pedido de socorro em cada suspiro desse homem. Eu atendi. Estou aqui, pode descansar. Mas ele tinha medo de ser feliz.
Essa criatura que procurava demônios para chamar de seus me deixava intrigada, mas eu já cansei de me sentir assim.
Ainda que ele justificasse tudo me soava falso. Não era culpa minha. Meus ouvidos haviam sido programados pra escutar desse jeito.
Logo agora que eu já havia me acostumado ao marasmo e calmaria ele tentava agitar minhas águas.
Logo agora que a poesia dentro de mim estava calada e adormecida ele havia encontrado um jeito de fazê-la gritar.
Agora eu esqueci como se tranca a caixa. Se tiver sorte acho as chaves antes que seja feito o estrago.

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